Sentei-me num banco da avenida,
a observar esta cidade que se diz evoluída.
Vejo a sociedade que, a tentar sobreviver,
já perdeu, há muito, a capacidade de ver...
Caminham todos, na pressa dos seus afazeres.
Caminha tu como eles para veres
como os Homens já não sabem parar para olhar
Apenas passam a vida a caminhar...
E, no meio desta multidão,
vem-me aos ouvidos uma canção...
Um pedinte está ali sentado no chão,
canta alto e estende a mão.
Todos passam e muitos nem o vêm...
Os Homens têm olhos mas parece que não os têm!
Apenas passam, passam sempre na mesma avenida...
Não vêm o homem invisível
ou chamam-lhe maluco por cantar para a vida...
Todos passam e alguns riem-se do pobre homem louco.
Outros mandam-lhe uns trocos mas é sempre muito pouco.
Mas ele canta alegre, como se fosse feito de felicidade...
Só eu vejo o homem invisível aqui, no meio da cidade.
Todos vêm o vagabundo na margem mas eu vejo-o no centro...
Todos vêm-no alegre mas eu sei que o homem invisível chora por dentro...