24.4.07

Pessoas

Vêm e vão. Feias, sujas, baças. Vêm e vão. Trazem certezas no saco, mas andam perdidas nos corredores da vida. Andam cegas - ou usam palas? Hipócritas! Sorriem sem mexer os lábios. Custa-lhes. Nada mais fizeram na sua efémera presença material do que devolver os músculos hirtos. Vêm e vão. Entediadas. Carregam o peso da ausência de espírito. Arrastam-se, arrastam-se. Ah, ah, ah. Eu rio-me delas, coitadas. Vazias, ocas. Ignoram tudo, mas conhecem algumas palavras que usam à toa. Defendem-se dos outros - ou de si próprias. Os outros, os outros. Os outros que nos ferem a pele sensível. Malditos dos outros. E as pessoas vêm e vão, baloiçando solitárias na sua inconsciência. Não são mais que folhas secas de final de outono, que quebro sob as solas frias dos meus sapatos. Elas sabem lá, coitadas, que o mundo é mais profundo do que dois metros de espessura. Ar, ar. Ar azedo, frio, ácido. Sai-lhes por entre os dentes, mas elas fazem dele poesia. E escrevem, anotam. Assinam por baixo. Vêm e vão. Imortalizadas por tudo e por nada. Encontram em si autoridade para se fazerem rainhas. E padecidas são meros sopros que o vento leva. Leva, leva, leva. Um dia não sobra nada. E eu suspiro de alívio. As pessoas vêm e vão.