Todos esperam às escondidas,
todos sorriem tão devagar
um momento das suas vidas...
Senhoras e senhores, o espectáculo vai começar...
Todos aplaudem o vagabundo
que tem a palavra “vida” na testa,
da bancada até lá ao fundo...
Palhaço que, mesmo triste, faz da vida uma festa...
Cínico, levanta o braço...
O que vem, quem acerta?
Saber de que vida é o palhaço
que mostra à multidão uma pequena marioneta...
Larga-se o instrumental,
vê-se o boneco mexer
e quase que parece real...
Gente a aplaudir o que nunca conseguiu perceber...
Vão todos escutar
o que a marioneta diz
na sua maneira de falar...
Ironia de sorriso que aparenta mas não é feliz...
“Todos riem da piada, é verdade...
Mas quem finge ser brinquedo?
Quem é humano na realidade?”
Abrir os olhos sempre meteu muito medo...
“Cada palavra que eu digo...
Nem sou eu que estou a falar!
É o Palhaço Vida, meu amigo...”
Linda marioneta, tão frágil que começa a chorar...
Teatro do mundo, palco de ti, é vida no controlo com cordas de aço...
Não te iludas, somos marionetas mexidas pela vontade de um palhaço...
Sim, podes rir
e aplaudir...
Avança o pequeno homenzinho...
Fez soar a sua vontade,
mesmo pequeno e sozinho,
mesmo agarrado a fios mostra que quer liberdade...
E vem um acorde de piano...
E o fragor duma guitarra...
Um silêncio e cai o pano...
Morreu a marioneta que não se fez à vida com garra...