24.4.07

Marioneta


Todos esperam às escondidas,

todos sorriem tão devagar

um momento das suas vidas...

Senhoras e senhores, o espectáculo vai começar...




Todos aplaudem o vagabundo

que tem a palavra “vida” na testa,

da bancada até lá ao fundo...

Palhaço que, mesmo triste, faz da vida uma festa...



Cínico, levanta o braço...

O que vem, quem acerta?

Saber de que vida é o palhaço

que mostra à multidão uma pequena marioneta...



Larga-se o instrumental,

vê-se o boneco mexer

e quase que parece real...

Gente a aplaudir o que nunca conseguiu perceber...



Vão todos escutar

o que a marioneta diz

na sua maneira de falar...

Ironia de sorriso que aparenta mas não é feliz...



“Todos riem da piada, é verdade...

Mas quem finge ser brinquedo?

Quem é humano na realidade?”

Abrir os olhos sempre meteu muito medo...



“Cada palavra que eu digo...

Nem sou eu que estou a falar!

É o Palhaço Vida, meu amigo...”

Linda marioneta, tão frágil que começa a chorar...



Teatro do mundo, palco de ti, é vida no controlo com cordas de aço...

Não te iludas, somos marionetas mexidas pela vontade de um palhaço...

Sim, podes rir

e aplaudir...



Avança o pequeno homenzinho...

Fez soar a sua vontade,

mesmo pequeno e sozinho,

mesmo agarrado a fios mostra que quer liberdade...


E vem um acorde de piano...

E o fragor duma guitarra...

Um silêncio e cai o pano...

Morreu a marioneta que não se fez à vida com garra...