4.4.07

Entre o dia e a noite



Passou um minuto. Ver como um minuto se escoa no lusco-fusco, onde não existe noite mas também não existe dia, é mágico. Não gosto do lusco-fusco. Embebeda-me os sentidos, deixa-me melodramático e pensativo no nada.



Olho pela janela do meu quarto (talvez diria melhor “do meu mundo”) e contemplo os tons vermelhos e rosas que se fundem num azul que fica cada vez mais escuro com o passar dos minutos. Outro minuto passou. A Lua olha nos olhos do Sol, pela primeira vez no dia, e manda-o descer no mar. Devagarinho, o tempo vai escalando o horizonte, tornando-o preto na sua escalada. Mais um minuto. Morreu o Sol, caiu o rosa e o vermelho. Mil e uma luzes afirmam-se no céu negro, como coveiros do grande brilho, macabras e impiedosas assistentes do funeral. Mais um minuto. O exército da lua vigia os humanos cá em baixo. O lusco-fusco.



A Clarividência fugiu a esconder-se. Ela também não gosta do lusco-fusco. Diz ela que "não é vaca nem boi". Dá-lhe dores de cabeça. A pobre coitada nunca viu Deus a pintar. Só quem assiste ao entardecer e ao pôr-do-sol é que não se ri quando eu digo que Deus é artista.



Como eu detesto o lusco-fusco.