10.4.07

Insónias

Tenho comichões à noite. Comichões na alma. Dou voltas na cama, procurando consolo no sono, que perdeu, novamente, a boleia da brisa lunar. De olhos fechados tento sonhar. Voar, voar alto, e sentir o que este mundo azul não deixa. Eu tento. Em vão. As comichões persistem, torturam-me, lépidas. Espremem de mim todas as memórias que esqueci durante o dia. Gritam, soltam gargalhadas que ecoam nas paredes do cérebro quebrado. "Sophia!, não te esqueças. Sophia!" São maiores do que eu e tenho medo. Anda, sono, anda cá e aconchega-me, sussurro. "Sophia!" E elas gritam e saem pela janela. Encendeiam-me a retina, dançando sem pudor. Seguram-me pelos dedos e sugam-me a comichão. Coçam. Coçam. Coçam e eu sangro. Dor. Maldita dor que me embalas. Passo a noite debatendo-me com as vozes da minha cabeça.
E o sono esqueceu-se de chegar.