Sento-me na escrivaninha para mandar a letra e a cabeça não recita nada. Inspiração a zero e talento debaixo da escada, por agora. Escrevo com letra miudinha e stressante numa folha em branco:
Eu escrevo
Tu escreves
Ele escreve
Ela escreve
Nós escrevemos
Vós escreveis
Eles escrevem
E depois? Completamente neutro de conteúdo. Rasgo o rascunho e meto-o na gaveta. Não meto nada no lixo. A falta de inspiração corta até os maiores artistas, e eu de maior não tenho nada. Hoje não estou nos meus dias, talvez. Rascunhos rasgados. Talvez a minha vida seja pautada por isto. Quantos rascunhos, Saramago deitou para o lixo? A minha vida seria uma grande vida se fosse feita de pedaços de papel de rascunho rasgados. Ou não?
Tiro o rascunho da gaveta. Nós escrevemos. Nós quem, se me sinto sozinho na odisseia do atirar rascunhos para a gaveta? Eu, Tu, Ele, Ela, Vós, Eles. Os outros dão-me a resposta. Um aplauso aos artistas da palavra que passa hoje por aqui. Um hurra que faça tremer quem rejeita mundos diferentes. Um brinde a nós que não temos rostos mas temos folhas de rascunho e canetas por estrear. Não temos corpo, já há muito que ele rebentou por não conseguir conter o infinito dos nossos espíritos. A nossa alma funde-se na tinta que forma a nossa realidade, o nosso mundo faz de conta. Sim, acredita, podes ter um mundo inteiro a fazer de conta dentro de rascunhos rasgados.

Experimentas?