30.3.07

Galileu Galilei

Eram para aí umas três da tarde quando ela me tocou na campainha. Foi há algum tempo. Abri a porta para descobrir que ela se chamava Clarividência e queria morar comigo. E assim foi a nossa odisseia. Sem grandes parágrafos, sem grandes virgulas e com poucos parêntesis. Ela é uma boa amiga, a gaja, e eu gosto dela à minha maneira tão própria de gostar de alguém.



Haveria quem dissesse que ela é tola, completamente doida, ou, num sentido mais prático, varrida dos cornos. Não deixam de ter razão. Mas quem é alguém para dizer o que é ser doido? O mundo roda com a força dos normais mas corre com o poder dos anormais, dos doidos, dos raros, dos mágicos. Se não fossem os doidos, a própria definição de normal não existia, visto não haver termo de comparação. Os meus doidos amigos. Doidos como, por exemplo, Galileu que, idiotice de quem é mesmo burro, dizia que era o sol que rodava sobre nós. Quanto brilhou um homem que falava do sol. E não, não me refiro ao brilho das labaredas das fogueiras que queimaram vivos outros tantos doidos como ele. Ser diferente é bom, gente! Traz problemas ser diferente, pois traz, e depois? Venham todos, com quanta força tenham, que eu aguento-vos com palavras cuspidas de tinta negra. E tenho a minha amiga Clarividência ao meu lado. Poderia estar aqui a escrever sobre isto toda a noite mas a Clarividência aconselha-me a não perder tempo com conclusões doidas e que vá tomar café, com ela, no nosso tão mágico café, a jusante da loucura mais calma.




Doido? Não.




Diferente? Sim.



A Clarividência bate palmas ao ler isto, antes de bater com a porta e agarrar-se ao meu pescoço. Como eu gosto desta míuda!